sábado, 13 de dezembro de 2014

Caçador de Heresias - Capítulo 01


- COINCIDÊNCIAS -


     — Ahh!... Que dor!! — Exclamou um Samuel estirado no banco traseiro do carro em uma noite confusa e nebulosa. As águas enchiam os bueiros da cidade com a chuva e as luzes noturnas da cidade banhavam seus olhos enquanto via tudo se apagar vertiginosamente.

     Samuel acorda — Já é manhã e ele passa a escutar os ecos. São seus pais conversando na cozinha, provavelmente conturbados com o acontecido:
     — Ainda bem deu tudo certo... Levamos ao hospital e fizeram alguns curativos — Disse sua mãe.
     — Não sei não. Se isso aconteceu uma vez também pode ocorrer mais vezes... Porque nunca se sabe. Pode ser um engano ou uma perseguição — Disse o pai desconfiado.
     — Espero que não seja nada... Mas foi rápido. Deu para levar ele ao hospital na mesma noite, isso é o que importa.
     — Pois é... Mas foi um susto.
     — Vou servir uma xícara de café para nós. Ele está bem, é o que importa agora.

" Doce ironia " — Falou — Ir para o treino no intuito de poder se defender e mesmo assim ser abordado desta forma. Levar um encontrão na rua não sabendo de onde veio ou quem foi — O garoto ri.
     Na realidade, a segurança que ele buscava ter não é nada de supérfluo. Como ele constatou pessoalmente, a própria vida provê formas cada vez mais ardilosas de manter o seu jogo, é isso que devemos nos ater. E cedo ou tarde tudo vem a baixo. — Foi o que ele pensou.
     Levantando de sua cama, vai até a janela de seu quarto e avista a costumeira visão de seu vizinho barulhento. E adivinhem? A xingar sua própria esposa.
     Chegando na cozinha ele encontra seus pais, e como este não irá trabalhar hoje, senta-se tranquilo na mesa e toma seu café calmamente.

     — Olá Samuel! Como esta se sentindo? — Indaga sua mãe.
     — Estou bem...
     — Que bom — Diz seu pai.
     A irmã de Samuel entra na cozinha levando consigo uma folha de papel:
     — Olha papai! Como sua filha esta indo bem no colégio! — Exclamou a mãe.
     — Muito bem! É assim que eu gosto. — A irmã do garoto sorri.

( ... )

     Vicktor é muito insistente em suas ideias metafísicas... Foi uma dor de cabeça em tanto tentar explicar para ele que leva suas teorias longe demais — Pensa Yoni e continua: — Levar tão a serio pontos de vista é um erro grave. A garota caminha apressadamente pela calçada enquanto " maquina " em sua cabeça. — É a rua Flávio Martins?... Número 333, é isto!... Acho que estou quase lá.

     — Olá. Sou colega da Emily... Estamos fazendo um trabalho — Disse a garota sem rodeios.
     — Ahh... Certo. Vou chama-la, entre e sente-se — Disse a mãe.

     Ela entra na confortável sala da humilde casa de sua colega de escola e senta no sofá enquanto admira os quadros de arte moderna. Logo avista uma garota conhecida. Jovem, 17 anos, cabelos castanhos e também seus olhos. Altura média, corpo esbelta e ar alegre. Yoni não deixava de expressar inconscientemente um certo eliticismo em observar as pessoas. Nesse caso, julgava ter a amiga um aspecto meio fútil ou inocente. Talvez fosse preconceito de sua parte ou teria herdado essa impressão de experiências traumáticas ou pouco agradáveis em sua estadia na escola. No entanto gostava muito de sua amiga.
     — Olá Yoni, como vai?
     — Estou bem, e você? Até aqui foi fácil encontrar a sua casa.
     — Que bom! Estou muito bem... Obrigada por perguntar.
     — Poderia me conseguir um copo d'água?
     — Oh... Sim, claro! — E Emily sem hesitar chama por seu irmão mais velho: — Muka! Trás água para a visita!
     Para não arrumar intriga o rapaz pega uma garrafa de água gelada e enche um copo, trazendo até sua irmã. Apesar da sede, Yoni demora um momento olhando para o rapaz. Agradecendo o favor ela pergunta para Emily:
     — Quem é ele?
     — Meu irmão. — Emily bebe e devolve o copo para a amiga que desta vez trás até a cozinha.
     — Vamos começar? — Pede Yoni, sendo direta como de costume ao ver sua amiga voltar, mas é interceptada por sua amiga que arremete:
     — Calma amiga, vamos primeiro colocar a fofoca em dia.
     — Bem... Como esta o namoro?
     — Olha. Apesar de achar ele certinho demais ele me atrai. Me trata bem e me leva presentes.
     — Humm... Vou pegar os materiais — Ao abrir a mochila a garota deixa cair acidentalmente um medalhão prateado. Ele cai no tapete, rola e fica reluzindo em um canto em baixo da mesinha, de frente a televisão.
     — Nossa! — Exclamou Emily — Que negócio é esse?
     — Não é nada — Diz ela guardando o pentagrama.
     — Bom, vamos começar.

( ... )

     Levantando a camisa ele olha para o curativo — " Belo tombo " — Pensou. Samuel escuta os risos das garotas na sala — O colégio passou rápido... Agora já estou com 22 anos... — Murmura com seus botões.
     Indo para o quarto ele joga um pouco no computador e depois se deita na cama. Olhando para o teto ele se deixa levar para o mundo de Morfeu...

     12:35 seu pai entra no quarto: — Com licença. Daqui a pouco estaremos indo para um passeio no qual sua irmã e os alunos do colégio também estarão. Uma boa oportunidade para você arrumar uma namorada não acha? hehe...
     — Seu pervertido.
     — Cuide da casa enquanto estivermos fora ok?
     — Passeio... Gostaria de ir.
     — Então venha. 13:30 estaremos partindo.

     Alguns minutos depois o rapaz já estava pronto. Olhava seu cabelo ondulado e castanho através do espelho. Yoni já foi embora e a garota haveria de encontrar Emily novamente no passeio ao museu. A família estava bem animada com a ideia de sair, a ida fora tranquila.
     Chegando lá desembarcaram e rumaram para o lugar. Atravessando o portal viram que nele estavam escritos os seguintes dizeres: " Museu de Nova Plebe " — Em referência ao nome que a cidade recebeu, cidade na qual nossos personagens se encontram. O nome da cidade é originário do passado desta, no qual ouve uma movimentação e atividades de um grupo de pessoas que no início de suas jornadas se encontravam um pouco deslocadas das demais, no sentido maligno. Com o tempo essa organização tomou conta da cidade passando a caráter político. Formando o instituto de desenvolvimento moral ( IDM ) na cidade que antes se chamava Ponte Norte. Essa influência crescente rendeu olhos de suspeita, de fanatismo, indiferença e uma religião mascarada.

- Fim do capítulo -                                                                                                          

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